— Paulo. (2ª EPÍSTOLA AOS CORÍNTIOS, capítulo 7, versículo 10.)
O homem chegou em casa, naquela noite, trazendo o mau humor que o caracterizava há alguns meses. Afinal, eram tantos os problemas e as dificuldades, que ele se transformara em um ser amargo, triste, mal humorado. Colocou a mão na maçaneta da porta e a abriu. A luz acesa na cozinha iluminava fracamente a sala que ele adentrou. Deteve o passo e pôde ouvir a voz do filho de seus quatro anos de idade:
- Mamãe, por que papai está sempre triste?
Não sei, amor, respondeu a mãe, com paciência. Ele deve estar preocupado com seus negócios.
O homem parou, sem coragem de entrar e continuou ouvindo:
- Que são negócios, mamãe?
- São as lutas da vida, filho.
Houve uma pequena pausa e depois, a voz infantil se fez ouvir outra vez:
- Papai fica alegre nos negócios?
- Fica, sim, respondeu a mãe
- Mas, então, por que fica triste em casa?
Sensibilizado, o pai de família pôde ouvir a esposa explicar ao pequenino:
- Nas lutas de cada dia, meu filho, seu pai deve sempre demonstrar contentamento. Deve ser alegre para agradar o chefe da repartição e os clientes. É importante para o trabalho dele. Mas, quando ele volta para casa, ele traz muitas preocupações. Se fora de casa, precisa cuidar para não ferir os outros, e mostrar alegria, gentileza, não acontece o mesmo em casa.
- Aqui é o lar, meu filho, onde ele está com o direito de não esconder o seu cansaço, as suas preocupações.
A criança pareceu escutar atenta e depois, suspirando, como se tivesse pensado por longo tempo, desabafou:
- Que pena, hein, mãe? Eu gostaria tanto de ter um pai feliz, ao menos de vez em quando. Gostaria que ele chegasse em casa e me pegasse no colo, brincasse comigo. Sorrisse para mim. Eu gostaria tanto...
Naquele momento, o homem pareceu sentir as pernas bambearem. Um líquido estranho lhe escorreu dos olhos e ele se descobriu chorando.
Meu Deus, pensou. Como estou maltratando minha família.
E, ainda emocionado, irrompeu pela cozinha, abriu os braços, correu para o menino, abraçou-o com força e lhe convidou:
- Filho, vamos brincar?
-.-.-.-
Há tempos a sombra da tristeza vem abatendo muitos corações, trazendo pesar e angustias... familias que não dialogam, trabalhadores infelizes com suas ocupações, pessoas que vêem a vida em tons cinzas e pretos... apesar de todos os recursos e facilidades a disposição do ser humano, o encontramos muitas vezes melancólico e desesperançado quanto a vida e seu futuro. É certo que todos somos humanos, temos nossos momentos de dificuldade e muito natural que tenhamos momentos de tristeza. Inclusive médicos, psicólogos e psicanalistas do mundo todo começam a levantar uma bandeira que pode parecer estranha: a de que a tristeza não deve ser evitada a qualquer custo, pois faz parte do nosso cotidiano e até nos ajuda a crescer. “Há um sentido existencial nesse sentimento, pois ele nos faz questionar a nossa vida e buscar caminhos alternativos”, defende o psicólogo Fabiano Murgia, de São Paulo, em entrevista a revista Saúde é Vital e também autor do livro Salve a Depressão (Editora Edicta). Ele acredita que os quadros depressivos geralmente são criados por emoções mal resolvidas. Essa tristeza podemos considerar ser a “tristeza segundo Deus”, nas palavras de Paulo de Tarso. É como um “cair” em si, nos fazendo despertar para nosso intimo, para nossos sentimentos e como estamos conduzindo nossa vida. Quando nos percebemos numa encruzilhada e decidimos que temos de mudar nossos hábitos e forma como enxergamos o mundo. Libertamos-nos do pesar e das culpas, do orgulho e da vaidade e decidirmos dar valor ao que realmente importa em nosso caminho. Em geral o homem de hoje, nas sábias palavras de Dalai Lama, perde a saúde para ganhar dinheiro e depois gasta todo dinheiro para recuperar a saúde, vive como se não fosse morrer e morre como se não tivesse vivido. Inevitavelmente acaba se angustiando por não encontrar a felicidade no materialismo da sociedade. A angustia deve ser encarada como o “termômetro” da alma... quando temos febre, não é ela em si o problema. Nosso organismo está indicando que há algo errado com ele. Quando estamos angustiados é um sinal da alma, nos avisando que algo em nosso mundo intimo necessita ser modificado.
Mas há também uma segunda tristeza, a “tristeza do mundo”, que vem atormentando a muitos de nós... quando saímos daqueles momentos de tristeza para uma vida de tristeza, aflição, reclamações e queixas sem parar contra Deus e o mundo, revivendo com insistência quadros tristes vividos no passado, pessimismo e a tão famosa melancolia (falta de prazer nas atividades diárias, desânimo sem uma causa real, como a morte de um ente querido, por exemplo), que é considerada uma das características da depressão. Já no século V a.C., Hipócrates, considerado Pai da Medicina, classificou a melancolia como doença. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a doença atinge cerca de 121 milhões de pessoas no planeta. Desse total, apenas 25% recebem tratamento adequado. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capitulo V, o espírito François de Genéve, nos questiona: Sabeis por que uma vaga tristeza se apodera por vezes de vossos corações, e vos faz sentir a vida tão amarga? E assevera: É o vosso Espírito que aspira à felicidade e à liberdade, mas, ligado ao corpo que lhe serve de prisão, se cansa em vãos esforços para escapar. E, vendo que esses esforços são inúteis, cai no desânimo, fazendo o corpo sofrer sua influência, com a languidez, o abatimento e uma espécie de apatia, que de vós se apoderam, tornando-vos infelizes.
É nosso descaso da nossa realidade de espíritos imortais, destinados a construir a própria felicidade através de seu trabalho não só material, mas também espiritual, que nos faz entrar em desespero, nos revoltar e nos entregarmos a desesperança diante dos problemas da vida. Se vivêssemos na plena certeza de que cada dificuldade é um degrau a mais, que serve para nos alavancar no progresso espiritual, não haveriam obstáculos que não superassemos. Essa tristeza segundo o mundo realmente nos conduz a morte... a morte da alegria, da paz, da felicidade, que em muitos casos levam pessoas a fuga da própria vida, através do suicidio! Por isso nos pede François : Acreditai no que vos digo e resisti com energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade. Essas aspirações de uma vida melhor são inatas no Espírito de todos os homens, mas não a busqueis neste mundo(...)Pensai que tendes a cumprir, durante vossa prova na Terra, uma missão de que já não podeis duvidar, seja pelo devotamento à família, seja no cumprimento dos diversos deveres que Deus vos confiou. Por isso devemos estar atentos diante das lutas que surgem em nossa estrada, sejam no trabalho, sejam no ceio da família. É a missão que nos cabe realizar para nossa verdadeira felicidade. A lutas diarias se compõe de mil vicisitudes que acabam por nos ferir. Mas jamais nos entregarmos logo no primeiro “round” . Devemos persistir e crer que a vida deve e pode ser melhor, seguindo o conselho de Paulo em sua epistola aos Tessalonicenses 5:8, “tende por capacete a esperança na salvação”!!
Protejamos nossa mente do desânimo, com o constante otimismo, a perseverança de quem sabe possuir em si a força, a coragem, a luz que Jesus asseverou que devêssemos fazer brilhar e não colocá-la escondida sob o alqueire de nossos medos e inseguranças. Não tenhamos medo de encarar as sombras que muitas vezes acalentamos em nosso intimo, pelo contrario, façamos luz sobre elas a fim de que sejam dissipadas. Vamos assumir nossa grande missão de sermos felizes e fazermos felizes os que estejam a nossa volta. Sejamos alegres e façamos os outros alegres. Se surgir a tristeza natural, que faz parte da nossa jornada, mas não deixemos que ela governe nossa vida, que ela sirva de instrumento de renovação. Sejamos artistas que pintam o quadro da vida em tons multicolores. Trabalhemos pela nossa segurança intima. Como diz um velho provérbio hindu, “o coração que está em paz vê uma festa em todas as aldeias”. Grande abraço a todos!!
Diogo Caceres